10 de jan. de 2011

Ele só pensa naquilo?!


Sexo não é bom, é ótimo. Faz bem para a pele, corpo e alma. Mas até o prazer tem seus limites. Às vezes você está cansada, fazer o quê? Nem sempre dor de cabeça é conversa para boi dormir. Tem dias que estamos tão acabadas que não pensamos em outra coisa: é deitar na cama, ler meia página do livro de cabeceira e pegar no sono. No máximo, a gente quer um cafuné. Até aí, maravilha. O problema é quando eles não entendem que não estamos a fim de sexo.
 
Não é fácil driblar homens-máquina que pensam muitas vezes que relacionamento é só sexo, 24 horas por dia. Marina Cavalcanti*, advogada, conhece muito bem o calvário. "Quase todos os meus namorados só me tocavam quando queriam sexo", revolta-se Marina. Já sua amiga, Rosana Esteves*, acha que não tem essa de mulher não gostar de sexo a todo o momento. "Quando é bem feito, carinhoso, que mulher não gosta? Sexo é sexo. Se tem amor, ótimo, mas se não tem pode ser bom também", defende. Haja pique!
“Tem coisas que despertam o estímulo sexual nos dois sexos, outras, não. Mas o fato é que o homem está sempre fisiologicamente preparado e pronto para fazer sexo”
É na diferença de ritmo que reside o problema. "A forma como homem e mulher são educados em relação ao sexo desde criança aumenta a diferença entre o desejo de ambos", explica o psicólogo e psicoterapeuta sexual Oswaldo Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade. A questão é como conciliar esses ritmos tão diferentes sem que a relação vá por água abaixo. Afinal, vida a dois não é feita só de sexo, mas ele também não pode faltar.

Maratona sexual
A advogada Marina Cavalcanti que o diga. Ela tinha acabado de terminar um namoro, estava carente e eis que conheceu, nas palavras da própria, "um cara lindo, forte e com mestrado". Aí pensou "por que não?" e resolveu sair com o bonitão intelectual, que se revelou uma máquina de fazer sexo. "Quando cheguei ao apartamento dele, juro, confundi com um quarto de motel. Puxadores dourados nas gavetas, vinhos de todo o tipo, frigobar, TV de plasma e cortinas de seda", lembra.
Marina conta que, na hora, passou um aperto danado. "Enquanto eu tentava descobrir sobre o que conversar com ele e como falar à altura daquele homem culto sem fazer feio, ele me recebeu com um beijo e logo disse, assim mesmo: 'Não quero nem saber seu nome, já te amo'", conta a advogada. Falou em amor, Marina se derreteu e deixou rolar.
Passado o fogo e excitação do primeiro encontro, quem sabe agora eles podiam tirar um tempinho na rotina frenética da cama para conversar sobre algo senão sexo. Não teve jeito. "Ele só pensava 'naquilo', não queria falar sobre outra coisa que não fosse sexo. Namoramos dois meses, mas posso dizer que mal o conheço - e olha que nos víamos todo dia", diz. Marina se envolveu em situações dramáticas para saciar os desejos do ex. "Uma vez ele nem me deixou subir até o apartamento, fizemos ali mesmo, na escada do prédio". Detalhe: o prédio não tinha elevador!

Iberê Pinheiro Filho, advogado, não se considera "louco" por sexo, mas acredita que podemos ser pegos de forma desprevenida e que sexo não pode ser programado. "Às vezes, quando menos se espera, acontece", diz Iberê. "Certa vez rolou no chão da cozinha enquanto meu cunhado dormia na sala. Com certeza eu repetiria a dose!", anima-se o advogado. 

No começo, Marina Cavalcanti adorava as estripulias sexuais com o namorado. "Pensei que ele estivesse apaixonado, mas depois comecei a me sentir incomodada por ele não falar sobre a vida dele e nem se interessar pela minha", lembra. Para piorar a situação, ela conta que até as preliminares ele pulava, indo direto ao ponto. "A preliminar era a arrumação do colchonete quando estávamos no consultório de fisioterapia dele ou, no máximo, um golezinho de vinho", indigna-se. Quando tentava pedir para ir mais devagar, o discurso era o mesmo: "Você é cheia de frescuras, hein!".
Já com um outro namorado foi diferente. Marina conta que passou três dias praticamente "internada" no motel (!) com o seu amor e que foi maravilho. "O sexo é saudável para a relação, mas o desejo, a vontade, devem ser mútuos", revela o psiquiatra Alexandre Saadeh, especialista em sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

Não sai da cabeça
Segundo o psicólogo Oswaldo Jr., o homem é culturalmente moldado desde cedo para pensar em sexo como a única forma de encontrar e reforçar sua identidade masculina, enquanto a mulher recebe uma educação mais conservadora. "Homem sabe que, se pensar em sexo, estará cumprindo seu papel", afirma. Além das questões culturais, também há as fisiológicas: hormônios e cérebro. De acordo com pesquisas científicas, homens e mulheres têm áreas diferentes do cérebro ativadas quando expostos a algum estímulo sexual. Portanto, a forma de cada um perceber a mesma cena erótica pode ser diferente.
De acordo com o neurologista Eduardo Barreto, o cérebro da mulher é mais intuitivo e emocional, sem falar que ela tem necessidades hormonais diferentes. "A mulher vive uma tempestade hormonal todo mês, o que interfere no sistema autônomo do cérebro, aquele que rege as nossas vontades e desejos", explica. Por isso, não é sempre que a mulherada está a fim de ir para a cama, enquanto para o homem todo dia é dia. "Tem coisas que despertam o estímulo sexual nos dois sexos, outras não. Fato é que o homem está sempre fisiologicamente preparado e pronto para fazer sexo", afirma o neurologista. Então tudo pode virar estímulo sexual.

Sexo, sexo e mais sexo
Maria Luiza Dias*, designer, enfrenta problemas com o ritmo e facilidade do marido em se excitar. Quando ela chega em casa, automaticamente toma um banho e coloca uma roupa mais leve, um short, algo confortável. É tiro e queda. "Não posso nem ajeitar o sutiã ou vestir uma camisola velha, daquelas furadas, que meu marido já vem com graça. Aí sempre acabo fazendo amor com ele, mesmo quando a vontade é zero, fazer o que. Ele se diverte e eu fico olhando para as paredes", conta Maria Luiza.
O psiquiatra Alexandre Saadeh explica que existe o preconceito feminino de achar que, se o homem se excita facilmente com a mulher, é porque vê nela um objeto sexual. Nada disso! Ele conta que é bom para a relação a mulher ser vista tanto como amiga e companheira quanto como um objeto de desejo. "Afinal de contas, quase nenhum homem leva para a cama um livro de filosofia para transar, mas sim uma mulher pela qual tem desejo", enfatiza o psiquiatra. Mais uma vez, o que não vale é excesso. Nem sexo por obrigação!

Mara Toledo*, administradora de empresas, não faz nada sem vontade. "Para o meu marido, qualquer hora é hora, tudo o leva a pensar 'naquilo' e não é sempre que estou acessível", admite Mara. No entanto, na casa da administradora, se um não quer, dois não brigam. "Já tivemos muitos problemas com isso, mas peço que ele aguarde com paciência", conta Mara, que não se sente incomodada pela energia do marido - pelo contrário, fica feliz porque se sente atraente. Para ela, o ideal seria fazer sexo três vezes por semana - com preliminares! "Preliminar tem que ser no dia a dia, na forma como ele me trata, independentemente de sexo", afirma.
O psiquiatra Alexandre Saadeh garante que as preliminares são fundamentais. "Para algumas mulheres, dependendo do parceiro, o sexo poderia até terminar aí", revela. O advogado Iberê Filho concorda com a importância do "antes". Para ele, sexo tem que ter início, meio e fim. "É um conjunto, onde cada etapa é essencial, inclusive as preliminares", garante. "Mas é que às vezes não dá tempo", ri.

Se você acha que o sexo está passando dos limites na sua relação, confira os itens abaixo e veja se batem com a sua vida de casal. Se sim, fique atenta, porque a relação pode ter virado apenas sexo para o seu parceiro.

- Ele faz carinho só quando quer fazer sexo.
- Preliminares? Há quanto tempo você não vê nem ouve falar.
- Tudo o que vocês fazem acaba em sexo.
- Você se sente obrigada a fazer sexo com ele.
- Vocês não têm mais assunto.
- Depois do sexo, fica a vontade - sua, dele ou de ambos - de ficar um tempo a sós.

Nada que a boa e velha conversa não resolva. O problema, segundo o psicólogo Oswaldo Jr., é que as pessoas acreditam que conversam e que existe comunicação adequada e efetiva nos relacionamentos, quando na verdade geralmente não existe! 

"Não vale fingir que nada está acontecendo", alerta o psiquiatra Alexandre Saadeh, até por que fica difícil não constatar a falta de sexo para uma pessoa e o excesso para a outra - só não vê quem não quer!

"Por isso, o diálogo é importante e a compreensão também", aconselha Alexandre. Entender a diminuição ou o excesso do desejo é importante para fortalecer o casal, enquanto acomodar-se à situação pode ser fatal para o relacionamento. Achar o meio termo no sexo ou em qualquer outro aspecto da vida do casal requer aprender a ouvir, conviver com as diferenças, aprender a debater sem se sentir agredida ou agredir e lidar com as frustrações. Se vocês compartilham todas essas atitudes, então podem planejar um futuro muito bonito a dois - e com sexo na medida certa!



* os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados 

Fonte: Bolsa de Mulher
Bjs!

Nanda Penélope



Um comentário:

  1. Oiiii! Vim fazer uma visita! Adorei o seu blog..

    Ellen Inserilo
    www.elleninserilo.com

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