Namorar sem se irritar!

"Ele ficou flertando abertamente com uma menina na festa"; "ela costuma me diminuir na frente dos pais e apontar meus defeitos"; "quando ele chega em casa, deita na cama sem nem tomar banho. Ele não pensa como isso me incomoda".


Queixas, queixas e mais queixas. A convivência e a rotina que vêm junto com o relacionamento costumam desgastar. Pequenas situações podem ser a semente de grandes brigas, discussões e ressentimentos, que, se não relevados, perigam levar um casal à dolorosa separação.

Que, quando intensos e frequentes, os desgastes costumam ter efeitos negativos nas relações amorosas, todos sabem. Mas poderiam tais problemas chegar a ter algum impacto beneficente para o casal?


Alguns especialistas acham que sim, que discussões podem ser positivas, mas sempre que sejam breves e favoreçam a resolução dos problemas que impedem o casal de se sentir bem.


"Em algumas ocasiões o aborrecimento pode ser também um estímulo ao desejo, quando precede uma reconciliação esperada e põe um fim no sofrimento emocional", assinalam o psicólogo clínico Miguel Costa e o especialista em medicina familiar Ernesto López.

No entanto, se o sentimento de enfado se torna comum e vira ressentimento e franca hostilidade, pode tornar-se um poderoso anestésico ao desejo sexual.

Se irritar é fácil. Difícil é saber a forma ideal de expressar isso. Algumas pessoas tentam conter, inibir e guardar a todo custo o aborrecimento com certos comportamentos do parceiro ou, simplesmente, com as reles situações derivadas da convivência.

Quando repetidamente reprimidos, a irritação e o ressentimento começam a se desenvolver de forma paralela e a pessoa se vê obrigada a fazer um esforço extra para frear a corrente emocional de cólera contida, de modo a impedir que transborde.

Dessa forma, fora o estresse adicional e os inconvenientes, a repressão acaba deteriorando também as relações amorosas.

Sem descontrole

"É preciso se permitir se irritar, porque guardar emoções negativas, por mais indesejáveis que pareçam ser, é um esforço inútil, simplesmente porque os seres humanos estão programados para reagir dessa maneira perante as situações que incomodam", assinalam os psicólogos espanhois no livro "Cómo vencer la pereza sexual", ("Como vencer a preguiça sexual", em tradução livre).

Segundo eles, amar e respeitar as pessoas com quem se convive não exige necessariamente reprimir sentimentos.

"Expressar nosso incômodo de uma maneira direta e sem ofender é um modo também de começar a controlá-lo e impedir que progrida para o ressentimento. Expressá-lo começando pela palavra 'eu' ajuda a torná-lo compatível com nossos objetivos de desenvolvimento da convivência e da vida sexual", sugerem.

Além disso, para que os problemas se tornem menos conflituosos e mais beneficentes, segundo Miguel Costa e Ernesto López, é aconselhável sugerir mudanças, "de maneira concreta e específica e evitando as distorções".

Começar a descrever uma situação com a palavra 'quando' pode ajudar a evitar isso, enquanto expressar as mudanças como desejos, sugestões e necessidades, em vez de como ordens ou imposições, também ajuda a que o aborrecimento se torne proveitoso, como explicam os especialistas.

Numa relação, é possível - e sempre que possível se deve - dizer tudo. A grande questão é a forma como se fala.

Há como, a partir do aborrecimento, que um casal cresça e se torne ainda mais unido.

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